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10 - VIOLÊNCIA, SELVAGERIA, CRUELDADE, BARBÁRIE...
- Fernando Mauro Ribeiro
- 10 de fev. de 2022
- 5 min de leitura
Eu poderia acrescentar ao título outros adjetivos como a covardia, ferocidade, cólera e fúria as cenas vistas no primeiro dia de fevereiro, em que culminou com a morte do congolês Moise Mugeny Kabagambe, em um quiosque na Praia da Barra, Zona Oeste do Rio. O vídeo de câmera de segurança mostra que durante uma discussão, o jovem de 24 anos, que cobrava um pagamento por dois dias de serviços é derrubado por um homem.
Na sequência, outros dois aparecem e se revezam nos golpes com um taco de madeira no estrangeiro, que, imobilizado, chega a bater com uma mão no chão, pedindo clemência. O ataque continua, mesmo com a vítima presa por um dos agressores pelo pescoço. Foram 30 pauladas, socos e chutes. Desacordado, ele é amarrado.
A cadadia que passa eu me convenço mais da crueldade do ser humano. Vivemos em um tempo que a violência deixou de ser obscena. Todos os dias, guerras e crueldades são expostas nos noticiários. Não podemos nos conformar com a normalização do mal, confesso estarrecido que o ser humano às vezes me assusta com suas atitudes de ódio. Não se pode assistir a cenas desse tipo, com indiferença, sejamos um defensor da paz!
O Brasil insiste em dizer que é um país rico em diversidade, sem preconceitos, enquanto isso, as pessoas negras são as que mais sofrem com a violência. Acorda, sociedade, sua negação é a arma que mais mata!
A cerca de uns vinte dias eu passava pelo local e o nome do quiosque me chamou a atenção por ostentar o nome de Tropicália, um período marcante da MPB – Agora, é como se eu voltasse àquele lugar e, estou a pensar: como pode, num local onde dezenas de pessoas se encontram em busca de lazer, ocorrer um crime brutal e um aparente silêncio. A ignorância é atrevida porque sempre acha que sabe tudo. Já a sabedoria é cautelosa porque sabe que sempre pode aprender algo novo.
De acordo com relato de um jornal carioca, algum tempo depois, um dos criminosos coloca gelo nos braços de Moise e, em seguida faz uma massagem cardíaca. Outra pessoa tenta a manobra de reanimação. Pelo menos sete pessoas apareceram nos 26 minutos de gravação do vídeo exibido por um canal de TV.
O dono do quiosque Tropicália, para quem Moise prestou serviços por três anos, depôs ontem na 16ª Delegacia de Polícia da Barra, mas a Polícia não divulgou o nome dele, alegando que o caso está sob sigilo. Dois policiais do 31º BPM (Recreio) que foram chamados para o local do assassinato, contaram, em depoimento na Delegacia de Homicídios da capital, que ouviram relatos de que a vítima chegou a pedir aos agressores que não o matassem.
O congolês Moise, sofreu traumatismo do tórax com contusão pulmonar provocada por ação contundente, e vários hematomas. O laudo de necropsia e o vídeo demonstram que, trata-se de uma vítima de espancamento. A aparição de sangue leva a uma dificuldade respiratória como em uma asfixia e a morte não se dá de maneira imediata. Estima-se em dez minutos o tempo de sofrimento que o fez agonizar antes de morrer, explicou o professor titular de Medicina Legal da Uerj.
A hipocrisia e a ignorância andam de mãos dadas. Precisamos unir forças e ecoar nossa voz para construirmos um futuro melhor. O vídeo da brutal execução de Moise Kabagambe é um soco no estômago de toda a sociedade. As imagens flagradas pela câmara de segurança revelam como descrevi acima, a enorme crueldade dos assassinos. Na noite do dia seguinte 02-02-2022 a polícia já havia prendido três, mas acredita-se que hajam outros envolvidos no assassinato.
IMAGENS DA CRUELDADE AUMENTAM O SOFRIMENTO DA FAMÍLIA
A gravação do crime aumentou ainda mais o sofrimento da família de Moise, que deixou o Congo em busca de uma vida de segurança, longe da guerra civil que aflige o país africano. O jovem chegou ao Rio quando tinha 11 anos, ao lado dos irmãos. A mãe veio três anos depois. Ele tinha ido no quiosque Tropicália cobrar um pagamento atrasado por dois dias de trabalho. A psicóloga Wanieh Momabi Salu, de 50 anos, prima de Moise, esteve na Delegacia de Homicídios da Capital para saber detalhes da investigação.
Lavy Ivone é uma mãe batalhadora. Quando trouxemos nossos filos para cá, pensávamos que seríamos acolhidos. Lá, no Congo, crianças entre 5, 6 ou 11 anos são forçadas a terem armas. Aqui no Brasil a gente tinha esperanças de dias melhores. Moise era um menino do bem, não merecia isso. Segundo ela, Ivone ficou em estado de choque ao ver o vídeo que mostra o espancamento do filho: “É como uma facada no peito”! Os irmãos de Moise também se desesperaram.
ASSASSINATO VIRA NOTÍCIA NO EXTERIOR
Das redes sociais à imprensa internacional; de famosos a anônimos; da tristeza à indignação. Em todo o mundo, o assassinato de Moise teve grande repercussão e causou reações emocionadas, expressadas por meio de imagens e palavras.
“Ele veio para o Brasil fugindo da violência que consumia seu país. Uma guerra tribal da República Democrática do Congo matou sua vó e parentes – mas sua vida no Rio deveria estar longe de derramamento de sangue”. Assim começou a reportagem de um jornal americano “The Washington Post.
Outros veículos estrangeiros também contaram o drama de Moise, mas, apesar da comoção que cruzou fronteiras, até ontem à noite, o governo Bolsonaro não se manifestou sobre o caso. Por sua vez, o governador Cláudio Castro, usou as redes sociais para fazer uma promessa: “O assassinato do congolês Moise não ficará impune. A polícia brasileira está identificando os autores dessa barbárie. Vamos prender os criminosos e dar uma resposta à família e à sociedade.
CRIME CHOCA O BRASIL E O MUNDO
“Esse não é o Rio que aprendi a amar e que me recebeu de braços abertos! Que seja feita justiça”. (Gabigol)
“O Rio de Janeiro não continua lindo. Não há beleza que conviva com a selvageria”. (Tatá Werneck)
“Não tenho nem palavras para descrever uma atrocidade dessa. É um absurdo”. (Thaís Araújo)
“Chorei lendo sobre o assassinato de Moise. O nome do quiosque Tropicália, aprofunda a dor”. (Caetano Veloso)
“É revoltante, triste e desanimador ter que ler ainda notícias desumanas como essa”. (Preta Gil)
“Aí, Brasil, mostra tua cara. E está na hora de mostrar a cara dos matadores de Moise”. (Chico César)
“Moise buscou refúgio, acolhimento e dignidade, mas encontrou racismo e xenofobia no Brasil”. (Juliette – ex BBB).
“Ele foi amarrado e espancado até a morte. O Brasil e seus retrocessos, uma tristeza”.
“Como negro, sinto nojo dessa sociedade que faz questão de nos separar. O racismo mata”. (Gil do Vigor – BBB)
“Arde, esmaga, não deixa respirar! Como conviver com o assassinato do jovem Moise. (Camila Pitanga)
“Brutalidade! É a carne negra mais uma vez sendo espancada para todo mundo assistir”. (Zezé Motta)
Todos os dias, estamos propensos a disseminar violência: seja no trânsito, nos discursos cristalizados e nas nossas relações pessoais. A auto avaliação precisa ser um exercício constante.
Fernando Mauro Ribeiro – com bases em extra.globo.com
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