20 - É CARNAVAL, A CIDADE DO SAMBA ESTÁ EM FESTA E EU ESTOU NO BLOCO

“O tempo corre veloz e a vida escapa das nossas mãos. Mas pode escapar como areia ou como semente” (Thomas Merton).

Esse pensamento, o li, hoje, pela manhã, num calendário que vi na mesa de escritório da namorada, e ele permaneceu comigo durante boa parte do dia. Há quem passe pela vida sem deixar marcas de sua passagem, sem pelo menos acenar com um fato, um ato, um caso, um ocaso, que deixe uma lembrança de sua existência. Passam atirando pedras, lançando olhares inquiridores, atirando garrafas pelos caminhos, incapazes que são de um gesto fraterno, como um afago, um abraço, um sorriso, um aceno que seja. Sentado numa mesa do Shopping Rio II, enquanto tomava um chope esse pensamento ainda dançava feito bailarina na minha mente um tanto barulhenta com as marchinhas do Bloco Carnavalesco Rio 2 Amores que vinha se aproximando.

Na verdade, eu sou um folião desse bloco. Estive lá, na concentração desde as 16:00 horas, enfrentei uma batalha de confete e serpentina e segui vestido de alegria pelas ruas do Condomínio. Alguém comentou de que o cortejo atravessaria a avenida Abelardo Bueno e circularia pela cidade olímpica. Nisso, o líder disse que o bloco permaneceria nos domínios do condomínio mesmo, por uma questão de segurança e que depois se reuniria com todos nos bares do shopping, onde a festa teria sequencia com animada roda de samba e o bom pagodinho.

Eu que já havia caminhado pela areia úmida e fofa da praia da Reserva, na Barra, estava revigorado, pronto para a maratona do Bloco e lá fui eu. A namorada que havia se comprometido com uma amiga, foi com ela para o Barra Shopping. Na concentração era grande a minha expectativa: um Arlequim sem Colombina no meio da multidão. Mas segui o cordão ao som daquelas marchinhas alegres que se espalhou pelas ruas do Rio II, com a bateria impecável sob a batuta – ou seria o apito? – do mestre Jorge da Portela, membros da bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel davam um suporte e à frente, seguiam as passistas numa bela festa de momo.

Um dos organizadores fez uma saudação a um compositor merecidamente lembrado, em razão de sua história com o Carnaval, sendo inclusive autor de uma música de sucesso: “Amor de Carnaval”. Ele se posicionou à frente do corro de som e foi bastante aplaudido pelo público presente. Segundo informações do presidente do Bloco, o Condomínio Rio II tem uma população estimada em vinte e duas mil pessoas. Isso explica o fato de o conglomerado de apartamentos ter vida própria, onde se tem uma Paróquia – São Marcelino de Champagna – um conceituado Colégio Marista; Maternal Infantil, Escolas de Primeiro e Segundo Graus, quadras poliesportivas, pista para prática de esportes, quadra de Tênis e outras modalidades esportivas, extensa área verde, jardins e as piscinas exclusivas de cada área e o charmoso e aconchegante shopping que se estende na horizontal com seus barzinhos, floricultura, um bom mercado, lagos e um segundo andar – apenas dois pavimentos – com salas dos mais diversos segmentos.

É carnaval, é folia, e nesses dias e noites não há lugar pra tristeza, o povo é só liberdade. “Liberdade ainda que tardia”, penso! Tardia, como? Liberdade nunca é tarde para adquiri-la. Nunca é tarde para que ela abra as asas sobre nós, e para que o céu da igualdade seja sempre a nossa voz, como sugere o inesquecível samba enredo. Então é tempo de Folia, de andar de braços com a alegria, com ou sem fantasia.

Umas serpentinas no pescoço, confetes pelo corpo e três chopes na cabeça, deixo a mesa do bar, quando as demais mesas estão todas tomadas, o bloco chegou, a festa está linda, o garçom me diz que o Flamengo venceu o Resende por 2 a 1, a bateria num barulho quase que ensurdecedor exibe o tradicional samba de Jorge Aragão, imortalizado na voz de Beth Carvalho e os foliões, cantam: “Vou festejar”! Estou a poucos passos de casa, mas, vou indo, caminhando, também festejando mais um dia de carnaval, celebrando a vida.

Fernando Mauro Ribeiro