25 – A SOLENIDADE DA ANUNCIAÇÃO DO SENHOR

“A realização das promessas de Deus eterno e onipotente passou pela liberdade de uma humilde mulher, de uma criatura que se intitulava: serva”. (Lc 1,38).

A solenidade da Anunciação do Senhor é celebrada anualmente no dia 25 de março. Ressoa forte, na liturgia desse dia, a palavra do Senhor a Acaz: “Pede ao Senhor teu Deus um sinal” (Is 7,11). Acaz, rei de Judá, que reinou no 7º século a.C., enfrentou uma situação delicada: da dinastia de Davi deveria nascer o Messias (2 Sm 7,12-16), mas ela estava em perigo, pois outros reis queriam eliminá-la. Acaz, em lugar de pedir a ajuda de Deus, e de apoiar-se unicamente nele, imolou o seu filho aos ídolos (2Rs 16,3) e fez aliança com a Assíria (2 Rs 1,7). Apesar de tudo, Deus por meio do profeta Isaías garantiu que não deixaria de dar um sinal à casa de Davi: “Uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus conosco” (Is 7,14).

O sinal de Deus, a prova concreta de seu amor pelos homens, foi dado séculos depois por meio de “uma virgem desposada de um homem que se chamava José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria” (Lc 1,27). Curioso: a realização das promessas de Deus eterno e onipotente passou pela liberdade de uma humilde mulher, de uma criatura que se intitulava “serva” (Lc 1,38).

“Pede ao Senhor teu Deus um sinal”! São muitos os que hoje desejam sinais espetaculares do céu. Gostariam de testemunhar milagres e fatos extraordinários, convictos de que, dessa forma, sua fé cresceria. Ora, a fé nos diz que aquele que foi concebido pelo poder do Espírito Santo e nasceu da Virgem Maria, que foi crucificado, morto e sepultado, ressuscitou! Está vivo! É o Emanuel, o Deus conosco. Não há e não poderia haver em nossa vida um sinal mais forte do amor de Deus por nós do que esse! Dessa verdade é que somos chamados a ser um sinal para o mundo. Nossa vocação e missão é ser testemunhas do Ressuscitado.

Em preparação à solenidade da Anunciação do Senhor, somos convidados a nos debruçar sobre o primeiro capítulo do Evangelho de Lucas; a nos aprofundar no mistério da Encarnação e do nascimento de Jesus no seio virginal de Maria; a renovar nossa fé em Jesus Cristo; a dar um maior espaço à Bíblia em nossa vida, já que nesse livro é o próprio Pai Celeste que vem amorosamente ao nosso encontro. Fazendo isso, nossa fé ficará revigorada, nosso testemunho como cristãos será fortalecido e nascerá em nosso coração um verdadeiro anseio de santidade, um forte desejo de conversão e de renovação pessoal. Mas, que lições Maria nos dá com o seu “Eis a serva... faça-se em mim...”

1ª Lição: A disponibilidade. Cada dia Deus pode se manifestar a nós com novas solicitações, e solicitações imprevisíveis, inesperadas. É essencial, pois estarmos atentos aos seus apelos – apelos que Ele nos manifesta através de inspirações do Espírito Santo, de necessidade de nossos irmãos e, particularmente, de solicitações que nascerão no contato com a Sua Palavra.

2ª Lição: A escolha de Deus como nosso SENHOR. É necessário o cultivo diário da escolha de Deus, feita em determinado momento na vida, uma vez que, não sendo puros espíritos, precisamos renovar-lhe constantemente o nosso sim.

3ª Lição: O espírito de serviço. Do sim à vontade de Deus, nascerá nosso sim às necessidades dos irmãos e irmãs. Em Maria, o !Eis aqui a serva do Senhor” se completou com a visita de Maria à Isabel, para ajudá-la na gravidez. Resultado: quando Maria entrou na casa de sua prima, introduziu Jesus nela.

Maria, mulher do “Eis a serva” e do “Faça-se em mim”, ajuda-nos a estar abertos à vontade de Deus, como tu; a escolhê-lo como Senhor, como tu o escolheste; e servi-lo na simplicidade e na alegria, como tu o serviste! Amém!

Murilo Krieger – Arcebispo de São Salvador - BA