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26 - RACISMO: UMA QUESTÃO SOCIAL
- Fernando Mauro Ribeiro
- 26 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
A discriminação racial, sentida em todas as áreas, tornou o negro excluído da sociedade, da educação e, consequentemente, do mercado de trabalho.
Neste mês comemora-se, em 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra. A data é celebrada no Brasil em memória da morte de Zumbi dos Palmares. Contudo, a expressão Consciência Negra vai além de uma celebração instituída no calendário. Ela designa a percepção histórica e cultural que os negros têm de si mesmos e representa a luta que eles enfrentam contra a discriminação racial e desigualdade social.
Em 1532 foram trazidos ao Brasil como escravos os primeiros africanos. Em 1850 foi colocado um fim no tráfico negreiro pela Lei Euzébio de Queiroz. Mesmo com o fim da escravidão em 1888, a busca dos negros por direitos iguais jamais cessou.
Mas o racismo não é uma luta só dos brasileiros. Países colonizadores e colonizados, em sua maioria, apresentam essa triste realidade. Vimos nos últimos tempos, muitos protestos antirracistas no mundo todo. A morte de Jorge Floyd, (lembram?) nos Estados Unidos, causou comoção e revolta em diversos países.
Foi uma brutalidade vista em todos os meios de comunicação: quatro policiais o sufocaram até a morte e uma única frase ecoou em todo o mundo: “Eu não consigo respirar”! O negro é discriminado e sofre diariamente pelo chamado bloqueio de oportunidades, de crescimento profissional pelo simples fato de ser negro.
RACISMO E SAÚDE MENTAL
O racismo também é um fator de risco para a saúde mental, o assunto é pouco debatido nessa área, mas não é esquecido. Alexandre Bez, especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami (UM), fala sobre os impactos que uma atitude racista pode causar à pessoa que sofre o preconceito. Quando falamos racismo, há uma relação com a saúde mental porque as atitudes de preconceito associadas a fracasso”.
Segundo o especialista, a formação do caráter independe de qualquer condição de cor, etnia ou situação econômica. “Caráter é formação pessoal de cada um. Tanto é que tem pessoas que não têm condições econômicas privilegiadas, mas tem um caráter excelente”, explica.
Educação e criação são determinantes para a formação de uma pessoa, todavia, a formação do caráter é algo ligado ao processo da formação familiar, declara Alexandre: em primeiro lugar é preciso fazer uma diferenciação entre educação e criação. Educação é você saber conversar, fazer uma conta de matemática, é chegar a um restaurante e saber comer a comida francesa ou um pão com manteiga na lanchonete da esquina, da mesma maneira, isso é educação.
Quando a gente fala em criação é outro processo. O caráter está intrínseco no processo da criação familiar. É no processo familiar de criação que a pessoa aprende que todas as pessoas são iguais, reforça. O psicólogo também destaca que racismo, discriminação e preconceito, são assuntos que devem ser debatidos em todos os ambientes de construção social: família, escola, trabalho grupos religiosos. Quando deixamos de falar sobre uma questão social como racismo, estamos negando que ele existe e que é um problema. Então é importante falar de assuntos polêmicos sim, para que eles sejam desmistificados”, conclui
REPRESENTATIVIDADE
A discriminação sentida em todas as áreas, tornou o negro excluído da sociedade, da educação e, consequentemente, do mercado de trabalho. Esta exclusão, através de muita luta, foi aos poucos diminuindo e o negro foi encontrando lugar nos esportes, nas artes, mas ainda assim não tinha espaço em algumas instituições como as universidades, por exemplo.
Ester Lopes, é dançarina e pesquisadora com foco nas relações de corpo, gênero, raça e classe. Trabalha com arte educadora e é instrutora de Pilates. Faz parte do coletivo artístico. As caracutás, coletivo que pesquisa as danças brasileira e afro-brasileiras contemporâneas. Está pleiteando vaga no mestrado para defender a tese sobre a representatividade negra nas universidades de dança no Brasil.
Como arte-educadora e pesquisadora, Esther sente falta da representatividade de autores e autoras negras no processo educacional: “Acho importante trazer autores negros, porque não só os docentes precisam estar lá, mas também os discentes precisam se ver lá, se sentir representados nas biografias.
Na graduação Ester diz ter tido pouco contato com autores e autoras negras, e todas as vezes que tiveram discussão sobre o tema foram embates muito profundos. “O racismo é uma questão das pessoas não pretas. As pessoas brancas precisam dialogar sobre isso, precisam entender e perceber que enquanto só as pessoas negras estiverem querendo seus direitos básicos e do outro lado não houver uma escuta ativa, pouco vai adiantar a nossa luta.
É uma luta que precisa ser combatida pelo outro lado que inventou tudo isso, toda violência racial, a falta de oportunidades. Pensar em como combater de dentro para fora e de fora para dentro o preconceito racial, é o único caminho que eu consigo ver, é o caminho da educação antirracista.
MOVIMENTO AFRO-BRASILEIRO DE ITAPERUNA
O Movimento Afro-Brasileiro de Itaperuna, (MOAB), fundado em 1985, por inspiração das historiadoras Maria Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez, mulheres negras e protagonistas na ocupação de espaço de negros nas universidades brasileiras, surgiu da necessidade de discutir a questão racial, de denunciar o racismo e ser uma organização formal para ocupar lugares de fala e luta contra o racismo estrutural.
Reportagem extraída da Revista O Mílite.
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