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27 - O ESTANDARTE DA ESPERANÇA VAI À FRENTE
- Fernando Mauro Ribeiro
- 27 de dez. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 28 de dez. de 2021
Estou com enorme desejo de escrever, às vezes, até parece uma compulsão, não sei ao certo. Não sei nem mesmo se deveria escrever o que agora escrevo ou se daria prioridade a outro tipo de escrita, como por exemplo, uma matéria para o portal, falando de um evento que Viviane realizou, com o intuito de resgatar a “Festa da Esperança”, encontro de Natal que minha mãe realizou durante décadas, para as crianças carentes de Cachoeira. Pois bem, com o nome de Natal Solidário a festa teve início às 17:30 horas e se estendeu até às 22:00, quando reuniu 350 crianças, aproximadamente, na Praça da Figueira, em Cachoeira Alegre.
Talvez, eu devesse falar também desse Dezembro. Mês difícil, de um ano ainda conturbado em consequência da Covid-19, marcado pela perda de amigos e entes queridos, caminhando entre a saudade e lembranças que, parecem querer, me fixar no solo, tornando pesado meus passos, levando-me a quase que um “arrastar”, ao longo dos dias desse 2021, que parece estar chegando ao fim.
Mas não quero, também ficar pelos cantos a chorar. Guardo meu lamento, para quando estou só. Eu e Deus! Aí, nessas horas, em meio a tristeza, falo de mim, sei que Ele vai ouvir o tanto de coisas que ainda preciso dizer e, nem sempre tem quem queira, possa e esteja atento a escutar-me. Também, não acho que as pessoas têm esse dever não. Entendo que o mundo seria melhor, que as pessoas até sofressem menos, se houvesse esse despojar-se, se uma janela se abrisse de forma a permitir um olhar fraterno e ouvidos atentos a dizerem: fala Fernando, sou seu amigo e quero te escutar.
Mas o mundo tem muita pressa, as pessoas têm pressa, o relógio tem pressa, os ônibus têm pressa, o automóvel corre; o suor escorre, a chuva lava a calçada e o sol, seca; as verdades e mentiras nos jornais, nas redes sociais as Fak News a espalhar dores; as angustias dos enfermos; a solidão dos sacerdotes; vidas que passam como o consumir-se de um cigarro, a revolta latente; o adeus em cada mão, quando esse adeus é possível.
Muitas vezes, nem esse adeus foi possível. Roubaram-nos os gestos mais simples do aceno, as máscaras ocultaram nossos sorrisos, encurtaram nossos abraços, cavaram um abismo entre as pessoas. À beira desse precipício, muitos não resistiram às tensões, à ansiedade e procuras por respostas nunca respondidas, e deram um salto no escuro, e essa ruptura tornou o vazio ainda maior.
Mas no carnaval da vida, o show não pode parar e o Bloco da Ilusão precisa apresentar-se, e, com ou sem fantasia ele segue no seu cortejo diário. O estandarte da esperança vai à frente, já que sem ela, não chegaremos a lugar nenhum. Mas, nas mãos, os instrumentos, calados. Talvez o surdo de marcação em companhia do bumbo, façam aquele toque dolente, como que a dizer: “tire seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor...” – com a permissão do poeta –
E vamos seguindo em frente: um enredo de dor, não empolga a ninguém, a passarela do coração está interditada, sem o entusiasmo do folião, a harmonia desanda, sem o calor das mãos, o samba morre, sem a agilidade das pernas a escola se arrasta, tropeça... mas, é assim: com as nossas dores, às vezes, silenciosos e solitários, às vezes, irrequietos e anarquistas, que chegaremos à apoteose.
E percebo que estamos próximos da Praça da Apoteose. Ali, o jogo pode mudar. Pelo menos, contornamos obstáculos, enfrentamos os muitos desafios, o cheiro do álcool ainda nas mãos, dá-me a impressão de que vem também dos hospitais, onde muitos feneceram, mas de onde muitos ressurgiram com um pequenino cartaz: “eu venci a Covide-19”. É lá na praça que veremos em um telão: “Viva o SUS”, “Viva a Ciência”, “Obrigado aos profissionais de saúde”; é lá, que encontraremos uma multidão, já ensaiando para tirar a máscara e cantar um canto novo. Cumprimos com nossa missão!
“Na vida havereis de enfrentar as aflições. Mas, coragem, eu venci o mundo”! Não é essa a ordem do Mestre? E todos sabemos, que o Seu caminhar aqui, entre os homens, não foi nada fácil: renúncias, a angustia no Horto das Oliveiras que O fez suar sangue, a terrível solidão, em virtude dos amigos que adormeceram e não vigiaram com Ele, em oração; as bofetadas; a cusparada; a esponja embebida de vinagre quando se tem sede; os escárnios; a coroa de espinhos; a cruz às costas; a ‘negação’ de Pedro: – eu não conheço esse homem –
Ó vós, todos, que passais pelas vias das cidades, em qualquer tempo, circunstâncias, hora, local, e vislumbrar, no cume de uma Igreja, ou onde quer que seja, uma Cruz; contemplai-a. Olhai-a detidamente e vede se há, dor igual!
É, pois, passando pelo calvário, que chegaremos ao ápice, à glória retumbante da ressurreição. Aprendamos com Ele! Por isso, agora, quando o pensamento seguiu essa rota, daqui, daqui da sacada de meu apartamento, estou a me despedir de 2021... e olhando o entorno, me dou conta de que o Ano Novo está chegando. Talvez, já na portaria, aguardando o momento de fazer sua chegada triunfal. Se virá de escada ou de elevador, já não me impacienta mais. Estou a esperá-lo, com os olhos a buscar focos de luz. Essa Luz que nos ilumina e nos ajuda a seguir, já se reflete nos nossos corações e espalham fagulhas, que passando pelo presépio, vão brilhando em nós, devolvendo nossos sorrisos, permitindo nossos abraços...
E quando 2022 chegar, quero recebe-lo bem. Quando por mim passares, quero aplaudir-te. Quero que, também batam palmas para mim. Mesmo que eu tenha ainda uma lágrima nos olhos, perceba que um sorriso já se desenha. Todos merecemos aplausos. Merecem homenagens, os que tiveram seu percurso interrompido e sucumbiram... também eles caminharam, também eles chegaram. Apenas desembarcaram na estação que lhes fora destinada, mas deixaram aqui uma bagagem que deve ser preservada, um legado a ser assimilado!
Aqueles que seguem no “trem da vida”, têm, muito provavelmente, um bilhete que lhes permitirá ir além. Podemos abrir a boca para reclamar ou abrir a mente para aprender. Pensemos nisso. Assim, todos devem reunir forças e cantar a “beleza de ser um eterno aprendiz, pois a vida é bonita, é bonita e é bonita”! Que seja assim!
Fernando Mauro Ribeiro
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